Como evangelizar hoje através das mídias digitais?

Essa é a pergunta de partida para a análise é de James Martin ,SJ, editor de cultura da revista dos jesuítas dos EUA, “America”.

O artigo é uma adaptação de um discurso proferido pelo autor no Dia Mundial das Comunicações de 2010, promovido pela Diocese de Brooklyn.

O termo da indústria para o apelo de um site da Internet é “pegajoso”. Os visitantes (ou os “olhos”) grudam em um site se ele for interessante, vivo, útil, provocativo e atraente em geral. Por outro lado, a “taxa de rejeição” se refere à frequência com que os visitantes iniciais navegam para fora de uma página a um site diferente. Ser “pegajoso” é bom; “saltitante” é ruim.

Quão saltitantes ou pegajosos são os sites católicos? Mais amplamente, como a Igreja está usando as mídias sociais e digitais em sua missão de espalhar o Evangelho? Uma vez que “a Igreja” pode significar muitas coisas, vamos estreitar o tópico: como aqueles que trabalham nas organizações da Igreja deste país estão usando as mídias socias e digitais?

Primeiro, as boas notícias. Nestes dias, quase todas as organizações e dioceses católicas e a maioria das paróquias têm uma firme presença na Web. Disponíveis tanto aos devotos quanto aos duvidosos, esses sites são repositórios de informações úteis. Pode-se verificar editoriais no jornal diocesano, acompanhar o blog do padre (e ler sua última homilia), fazer doações a uma instituição de caridade católica favorita e verificar os horários das missas.Um site atualizado é uma necessidade tão grande hoje quanto um boletim paroquial semanal (ou como costumava ser).

Mais boas notícias: a Conferência dos Bispos dos EUA obteve um grande sucesso no mundo das mídias sociais. Ela possui mais de 29 mil “fãs” no Facebook, onde a conferência às vezes promove concursos de conhecimentos gerais e onde os fãs usam a página para discussões animadas. A conferência também mantém o seu próprio canal noYouTube e frequentemente atualiza seu Twitter.

A má notícia é que diversos sites católicos não têm imaginação, são difíceis de navegar, cheios de links mortos .. No mundo impresso, os editores de revistas são encorajados a redesenhar suas publicações a cada cinco anos. Na Web, a reinvenção acontece mais frequentemente. Se o meio é a mensagem, então a mensagem é que a Igreja muitas vezes é uma retardatária. Mais lamentável do que a aparência é o conteúdo: enquanto os sites da Igreja são repositórios de informação, eles também não são nada mais do que isso muitas vezes. Embora os horários de missa e as informações para doações sejam importantes, um bom site requer mais do que apenas fatos crus. Como os filósofos poderiam dizer, essas são condições necessárias mas não suficientes para a “pegajosidade”.

Grande parte dos bons sites são atualizados diariamente. Se eles querem olhos jovens, então isso é feito várias vezes ao dia. E bons administradores da Web postam não apenas textos, mas também vídeos, podcasts, apresentações de slides e conversas interativas. Senão, ele ou ela não deveriam se surpreender com uma falta de visitantes. Aqueles que se perguntam se é realmente possível atualizar sites diariamente fariam muito bem em lembrar que há muita coisa acontecendo na nossa Igreja. Por isso, não é difícil ser criativo: aponte para os espectadores notícias internacionais da Igreja que de outra forma eles não veriam; faça upload de vídeos de palestrantes católicos; link artigos das suas revistas católicas favoritas (dica); indique novas (ou velhas) obras de arte católicas; e poste a última nota de imprensa do Vaticano.

Muito ocupado?

Muitos funcionários da Igreja podem dizer: “Você está louco? Eu estou muito ocupado!”. Mas não atualizar é como ter um microfone na paróquia que não funciona. Um padre ou um diácono poderiam fazer homilias que coloquem São João Crisóstomo no chão, mas, se ninguém pode ouvi-las, para quê servem? Da mesma forma, se as organizações eclesiais não mantêm um site ou blog vivo, poucas pessoas – especialmente os jovens, que obtêm suas informações digitalmente – irão visitar esses sites e ouvir a mensagem da Igreja, ou mesmo se importar se a Igreja está falando.

De volta às boas notícias: a Igreja oficial entrou no ritmo na blogosfera. O arcebispoTimothy Dolan, de Nova York, bloga religiosamente (trocadilho intencional). O mesmo é feito pelo cardeal Sean O’Malley, OFMCap, de Boston, que complementa seu blog com fotos. A blogosfera é um lugar natural para comunicadores articulados, e há muitos deles na Igreja. Mas os blogs apresentam desafios significativos, como encorajar o diálogo entre os leitores e a construção de uma espécie de comunidade virtual. Dê uma olhada em alguns blogs diocesanos e observe quantos comentários existem: muitas vezes o número é zero.

Por que zero? Muitas vezes, porque o blogueiro posta e depois vai embora. Parafraseando o comentário deTruman Capote sobre Jack Kerouac, isso não é blogar, isso é publicar. Responder aos comentadores incentiva mais pessoas a ler, a postar e a discutir. Essa prática não existe sem seus próprios perigos. É fácil se atolar em e-batalhas teológicas obscuras.

Aceitar e publicar comentários, mesmo aqueles que não se alinham ao ensinamento da Igreja, é outro desafio que exige – além da catequese paciente – a caridade constante. Ainda mais caridade é necessária quando os comentários se tornam ad hominem [contra a pessoa]. In omnibus caritas [em tudo, caridade], como o Beato João XXIII gostava de dizer. É fácil de dizer, mas é difícil fazer quando alguém diz que você é um idiota, um herege (ou ambos), ou que você deveria ser, como alguém disse recentemente a mim de verdade, sumariamente laicizado.

Duvidando dos “odiadores”

Uma área onde a relação da Igreja institucional com a mídia digital está se dando mal é na sua própria leitura de blogs. Podemos prestar muita atenção àqueles que são chamados de “odiadores”. Não poucos bispos, administradores, teólogos, pensadores, escritores, padres, irmãos e irmãs católicos têm sido vilipendiados sem nenhuma boa razão em blogs católicos, cuja razão de ser é policiar, condenar e atacar. Alguns sites parecem ter se configurado como um magistério baseado na Internet, mesmo quando os inquisidores têm pouco ou nenhuma perspicácia teológica. Afinal, na Internet, ninguém sabe que você não é Hans Urs von Balthasar.

Às vezes, esses ataques pingam por toda a Web e encontram seu caminho à escola católica onde os alvos dos ataques trabalham, à universidade onde eles ensinam ou à diocese em que eles ministram. Portanto, uma ressalva: não acredite em tudo o que você lê na blogosfera. Lembre-se que os autores de alguns blogs chamados católicos nem sempre são confiáveis. É melhor checar com o sujeito do ataque.

Linguagens e modalidades

Voltemos a como a Igreja pode utilizar melhor as mídias digitais para difundir o Evangelho. Com relação às mídias (um pouco) mais recentes, a Igreja ainda está brincando de esconde-esconde. Isso é compreensível: os funcionários da Igreja são pessoas ocupadas. Mas a falta de atenção pode dar a impressão involuntária de que a Igreja considera o Facebook, o YouTube e o Twitter como algo abaixo deles ou inerentemente risível. “Você tuíta?”, perguntou-me um padre recentemente. “Para quê?”. Quando eu lhe disse que eu posto homilias de 140 caracteres todas as manhãs, ele revirou os olhos.

Minha resposta foi esta: a Igreja quer seriamente chegar aos jovens? Refiro-me a pessoas que são realmente jovens – não apenas abaixo dos 50, mas com menos de 25 anos – homens e mulheres jovens na faculdade ou no ensino médio. A Igreja anseia por chegar aos jovens, mas ela está disposta a falar não apenas na linguagem dos jovens, mas nos modos que eles costumam falar? Ou será que a Igreja espera que eles venham até ela e falem, por assim dizer, em sua própria linguagem?

Jesus, aliás, pediu que seus seguidores fossem até os confins da terra, e não apenas aos lugares em que eles se sentissem confortáveis. E Jesus não se sentou ao redor de Cafarnaum esperando que as pessoas fossem a ele. Às vezes, as pessoas iam à casa onde estava hospedado. Mais frequentemente, ele ia até elas. E, mais importante, Jesus falou em uma linguagem que as pessoas compreendiam e usou a mídia que as pessoas achavam acessível.

Usndo um modo de comunicação especificamente projetado para atingir seu público, as parábolas de Jesus eram histórias vívidas que ele tirava da vida cotidiana – contos simples sobre agricultores que plantam sementes, mulheres que varrem suas casas, um homem que é espancado por ladrões – e entendia facilmente as histórias da natureza – um grão de mostarda, lírios, pássaros, nuvens. Jesus falava a linguagem do povo do seu tempo, usava exemplos das suas vidas cotidianas e oferecia tudo isso de um modo que eles apreciavam. Ele não tinha medo de ser visto como indigno ao falar sobre lugares comuns como sementes de mostarda ou ovelhas. O Filho de Deus não via isso como algo abaixo dele. E, se ele não considerava o fato de falar em estilos familiares como algo indigno, então por que nós deveríamos?

O administrador pastor ou bispo da Igreja verdadeiramente criativo pode até pensar para além dos modos atuais e no campo que emerge mais rapidamente em termos de oportunidade digital: as comunicações móveis, o desenvolvimento de aplicativos móveis e de aplicativos projetados especificamente para computadores tablet (como o iPad).

As aves do céu

Em todos os tempos, a Igreja usou todas as mídias que estavam disponíveis para espalhar a boa nova. Jesus usou parábolas tiradas da natureza e da vida cotidiana; São Paulo usou cartas para chegar aos primeiros cristãos; Santo Agostinho praticamente inventou a forma da autobiografia; os construtores das grandes catedrais medievais usaram pedra e vitrais; os papas da Renascença usaram não apenas bulas papais, mas também afrescos coloridos; Hidegard de Bingen, alguns dizem, escreveu uma das primeiras óperas; Santo Inácio de Loyola incentivou os primeiros jesuítas a escrever e a publicar panfletos; e os primeiros jesuítas usaram o teatro e a dramaturgia para apresentar a moral em encenações para vilarejos inteiros; Dorothy Day fundou um jornal; Daniel Lord, SJ, entrou para o rádio;Dom Fulton Sheen usou a televisão com um efeito deslumbrante; e agora temos bispos e padres, irmãs e irmãos e líderes católicos leigos que blogam e tuítam.

Nenhum meio está abaixo de nós quando se trata de proclamar o Evangelho, especialmente aos jovens. Isso inclui sites, mas também todas as mídias sociais e digitais. Que triste seria se não usássemos as ferramentas mais recentes à nossa disposição para comunicar a palavra de Deus.

Se Jesus podia falar sobre as aves do céu, então nós seguramente podemos tuitar.

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