No drama do mundo, um amor total

 Dom Filippo Santoro

Bispo da Diocese de Petrópolis

 

As chuvas caídas na Região Serrana do Rio de Janeiro, com 900 vitimas; o terremoto do Japão e a tsunami com mais de 12 mil mortos; as doze crianças inocentes assassinadas em Realengo por um desequilibrado de vinte três anos que depois se matou; deixam-nos tristes e aflitos. Uma mistura de impotência e revolta diante da força da natureza e da loucura do homem.Tanto basta para experimentar como é frágil e precária a nossa vida. Que sentido tem celebrar nestas condições a Páscoa? Sendo tão perdidos e desamparados o que sustenta nossa esperança? O que pode nos confortar para não ser engolidos na distração, no consumo, no vazio? A grande pergunta, que tampouco a cultura contemporânea pode negar, é se existe algo que satisfaça plenamente as exigências do coração e que perdure no tempo, para sempre.

 

 

 

E aqui se manifesta o valor da Páscoa de Jesus que abraçou totalmente o sofrimento do mundo, o drama do pecado e a dor da natureza que geme conosco em dores de parto (Romanos 5, 22). No meio do drama do mundo estamos diante de um amor total que abraça e que perdoa. Cristo se dobra sobre o nosso sofrimento e o nosso pecado. O abraço do seu amor contínuo salva os mortos da chuva, salva estas 12 crianças inocentes e julga o agressor. Sem Cristo estas crianças onde estariam? Tudo terminaria com uma insensata violência e ninguém seria responsável de nada. E os mortos da chuva? E as vitimas da tsunami? Desaparecidas para sempre! A morte foi enfrentada e vencida por Cristo que nos revela um amor maior que corresponde ao nosso desejo mais profundo de vida plena.

Ora o amor do Senhor não é um sentimento, ou apenas um piedoso desejo da razão e do coração. “Eu sou a ressurreição e a vida” (João 11, 25). O seu amor é um fato. Na manhã de Páscoa Ele se mostra e se faz encontrar por pessoas concretas que o reconhecem e cheias de alegria anunciam a sua vitória. A vida humana começa a ser contagiada pela sua imortalidade e, seguindo esta presença, se vence o tempo, o espaço e a morte. Ele é nosso contemporâneo, caminha conosco e nos comunica a sua própria vida. Assim nasce a Igreja que é o seu corpo hoje, feito por aqueles que o seguem. Frágeis como todos, mas portadores da vitória de Cristo. Se hoje, somos cristãos é porque, um dia da nossa vida, encontramos alguém que nos testemunhou de modo credível a conveniência humana da fé. Um amigo, um rosto, uma comunidade que permitiram verificar que Cristo está presente e hoje ilumina a razão e esquenta o coração como aconteceu com os primeiros que o encontraram.

É necessária simplesmente a abertura de coração e o seguimento de sua presença como Maria Madalena, Pedro, João e uma fila ininterrupta de testemunhas até chegar a Padre Pio, Teresa de Calcutá e ao Papa João Paulo, que no primeiro de maio será beatificado e que nos deixou encantados particularmente nas suas visitas ao Rio de Janeiro. Hoje também, no ministério de Bento XVI e na vitalidade da nossa Diocese, (pensemos no grande trabalho da emergência depois da calamidade das chuvas e no plano de reconstrução urbanística e humana das áreas de riscos), os nossos olhos veem fatos e testemunhos que nos fazem perceber a beleza e a atração de Cristo. Trata-se de uma superabundância de humanidade que nos impressiona.

Esta Páscoa é a ocasião de renovar hoje o encontro com Ele e isso mantém viva a esperança diante do drama de Realengo, do Japão e das chuvas da Região Serrana. E nos permite manter viva a memória para uma vigorosa reconstrução das nossas cidades sem cair no esquecimento e na indiferença. A Páscoa de Jesus muda o rosto do mundo e traz uma verdadeira esperança para todos.

 

Artigo publicado no jornal Tribuna de Petrópolis em 24 de abril de 2011.

 

 

 

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