“A vida nunca se torna insuportável por causa das circunstâncias, mas somente por falta de significado e de propósito”.

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Milhares de livros de autoajuda são publicados todos os anos, prometendo as chaves da felicidade, da transformação e da vida significativa. Mas um livro de memórias de 1946, cujo pano de fundo é um dos capítulos mais cruéis e mais terríveis da história da humanidade, afirma que a chave da felicidade está precisamente em parar de correr atrás da felicidade.
 
“Em busca de sentido”, do psiquiatra austríaco ViktorFrankl, é um poderoso livro de memórias psicológicas e de reflexões sobre a experiência do autor em Auschwitz. A obra argumenta que o significado, e não o sucesso ou a felicidade, é que deve ser buscado na vida humana. O livro apresenta a teoria da logoterapia deFrankl, que sustenta que o impulso fundamental do homem é encontrar “o significado potencial da vida em quaisquer condições”. Frankl escreveu: “A vida nunca se torna insuportável por causa das circunstâncias, mas somente por falta de significado e de propósito”.
 
Frankl teorizou que foi graças a esse senso de propósito que os sobreviventes do Holocausto conseguiram superar aquela provação extrema. Mesmo nas piores circunstâncias imagináveis​​, Frankl mantém firme a crença de que o espírito do homem pode se elevar acima de tudo aquilo que o circunda. “Quando não conseguimos mais mudar uma situação, temos o desafio de mudar a nós mesmos”, escreveu ele.
 
De modo aparentemente paradoxal, foi num período de tragédia e sofrimento sem sentido que Frankl pôde darsentido à experiência humana, além de documentar e explorar a busca universal de sentido de uma forma que nunca tinha sido articulada antes. Em 1959, o psicólogo americano Carl Rogers declarou que o trabalho deFrankl é “uma das contribuições mais relevantes para o pensamento psicológico nos últimos 50 anos”.
 
As palavras elogiosas de Roger são, no mínimo, uma subvalorização. Até 1997, o ano da morte de Frankl, o seu livro tinha vendido mais de 10 milhões de cópias, já era usado como livro-texto em cursos e faculdades e tinha sido reimpresso 73 vezes, além de traduzido para 24 idiomas, de acordo com o obituário de Frankl no New York Times.
 
Frankl reitera ao longo do livro que, mesmo quando todo o resto lhe for arrancado, o homem ainda tem a sua última liberdade: a de “escolher que atitude tomar em um determinado conjunto de circunstâncias”. Essa ideia de que o homem pode superar suas circunstâncias através da atitude remonta aos antigos filósofos estoicos e ainda permeia grande parte do nosso atual conceito de resiliência. Frankl fornece evidências práticas e teóricas da sua poderosa verdade.
 
“Quem tem um ‘porquê’ de viver pode suportar quase qualquer ‘como’”, escreve Frankl, citando Nietzsche.Frankl não estava apenas falando da boca para fora ao defender o poder do otimismo e do senso de propósito: ele próprio tinha passado pelo pior ‘como’ possível, sendo prisioneiro em Auschwitz e perdendo pai, mãe, irmão e esposa grávida nos campos de concentração; toda a família, exceto a irmã.
 
Como foi então que Frankl, confrontado com a própria morte e com a execução brutal das outras pessoas, ainda pôde pensar que a vida valia a pena? Franklafirma que é “a vontade de sentido” do homem o que lhe permite resistir ao sofrimento e à dor sem sentido: a vida é sofrimento e, para termos qualquer esperança de sobreviver ou prosperar, precisamos encontrar sentidoneste sofrimento. Tomamos a decisão de seguir em frente, de continuar acordando e vivendo dia após dia porque acreditamos que existe um propósito maior e um senso de responsabilidade na nossa vida; que o nosso sofrimento não é em vão.
 
“De certa forma,o sofrimento deixa de ser sofrimento quando encontra um significado, como o significado de um sacrifício”, escreveu Frankl.
 
Para Frankl, os entes queridos, a religião, o senso de humor, podem trazer significado ao indivíduo em épocas de grande sofrimento.
 
O significado pode vir de várias fontes diferentes, mas nenhuma é mais poderosa e mais transformadora do que o amor. Frankl escreve que, nas trincheiras de Auschwitz, ele experimentou a verdade do velho clichê que diz que “a única coisa de que você precisa é o amor”. Esta epifania foi inspirada por pensamentos da sua esposa durante a marcha diária dos prisioneiros, de manhã cedo, até o local de trabalho:
 
“Pela primeira vez na minha vida, eu vi a verdade tal como ela é cantada por tantos poetas e proclamada como a máxima sabedoria por tantos pensadores. A verdade – que o Amor é o objetivo final e mais alto a que o homem pode aspirar. Eu então percebi o significado do maior segredo que a poesia humana, o pensamento humano e a crença humana podem revelar: a salvação do homem vem através do amor e no amor.”
 
Pensar em sua amada, escreve ele, permitiu que um homem conhecesse a felicidade durante um instante, mesmo quando todo o resto tinha sido arrancado dele.
 
Se há uma conclusão a ser tirada de “Em busca de sentido”, é que o amor é o nosso maior objetivo possível. É uma conclusão apoiada não só por inúmeros testemunhos individuais, mas também pelo Harvard Grant Study, que acompanhou a vida de 268 estudantes de Harvard, todos homens, coletando dados em intervalos regulares ao longo de décadas. O diretor do estudo, George Vaillant, disse que esse trabalho revelou dois pilares básicos da felicidade: “Uma é o amor. A outra é encontrar uma forma de lidar com a vida que não deixe o amor de fora”.
 
Frankl acredita que optar pelo riso e pelo senso de humor nos ajudar a “elevar-nos em qualquer situação”. E Frankl queria mesmo dizer “qualquer” situação. Ele conta, por exemplo, que os prisioneiros de Auschwitz encontravam pequenos momentos de descontração nos quais contavam piadas e riam juntos.
 
“O esforço por desenvolver o senso de humor e ver as coisas em uma perspectiva bem-humorada é um truque que se aprende enquanto se aprende a arte de viver”, escreve Frankl. “E é possível praticar a arte de viver mesmo num campo de concentração, onde o sofrimento é onipresente.”
 
Frankl lamentou que a sociedade moderna tenda a se orientar para o “resultado”, que desvaloriza quem não é necessariamente tão “bem sucedido e feliz” quanto os outros. Seu conselho para viver uma vida feliz (e bem sucedida) é não perseguir o sucesso, mas dedicar-se a algo maior que si mesmo e deixar que o sucesso venha como consequência inevitável dessa dedicação.
 
Em seu prefácio à edição de 1992, Frankl implorou que o leitor seguisse a sua consciência acima de tudo:
 
“Não almeje o sucesso. Quanto mais você o almejar e fizer dele um alvo, mais você se afastará dele. O sucesso, assim como a felicidade, não pode ser perseguido; ele deve acontecer, e só acontece como efeito colateral da sua dedicação pessoal a uma causa maior do que você mesmo ou como subproduto da sua entrega a uma pessoa que não é você mesmo. A felicidade deve acontecer, e o mesmo vale para o sucesso: você deve deixá-la acontecer em vez de se preocupar com ela.”

sources: The Huffington Post

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