MULHERES DE FÉ: Margarida Alves

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Essa semana já vimos a vida de duas guerreiras. Madre Teresa e Zilda Arns nos mostram que ter fé não é só acreditar em Deus, mas ver Deus no próximo e o ajudá-lo. A homenageada de hoje escolheu também o caminho do serviço. Margarida Alves deu a sua vida pelos trabalhadores rurais, trazendo a sociedade de hoje a importância de ser profeta e lutar, denunciar o mal. Veja:

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A uma semana de completar 50 anos de idade e dez anos de luta incansável pelos direitos básicos dos trabalhadores rurais do Brasil, como Carteira de Trabalho, jornada de oito horas, férias e 13º salário, Margarida Maria Alves foi brutalmente assassinada no dia 12 de agosto de 1983.

No momento do tiro de espingarda no rosto, desferido por um matador de aluguel, ela estava em frente à própria casa, em Alagoa Grande (Paraíba), na presença do marido e do filho de apenas dez anos de idade.

O crime foi e é considerado político e comoveu a opinião pública nacional e internacional, com ampla repercussão em vários organismos políticos de defesa dos direitos humanos. Margarida costumava dizer que era “melhor morrer na luta do que morrer de fome”.

Filha mais nova de uma família de nove irmãos, foi a primeira mulher eleita para a presidência do Sindicato de Trabalhadores Rurais (STR) de Alagoa Grande em 1973. Foi também fundadora do Centro de Educação e Cultura do Trabalhador Rural.

À época de seu assassinato, Margarida movia mais de cem ações trabalhistas na Justiça do Trabalho local, batendo de frente contra interesses dos donos da Usina Tanques, a maior usina de açúcar do Estado, e de alguns “senhores de engenho”, remanescentes do período em que os engenhos dominavam a economia açucareira.

Fazendeiros não ligados à lavoura de cana também se viram em posição oposta à sindicalista, que denunciava abusos contra trabalhadores rurais e o descumprimento da legislação trabalhista.

Esses fatos, considerados inusitados, em função da então incipiente democracia brasileira, geraram grande impacto e indignação na indústria canavieira da região. Em consequência disso, Margarida passou a receber constantes ameaças. Um dia antes de seu assassinato, participou de um evento público, onde acabou falando publicamente sobre as “recomendações” que vinha recebendo para que ela “parasse de criar caso”. Apesar das ameaças, a sindicalista fazia questão de torná-las públicas.

O assassinato de Margarida continua impune. Dos cinco acusados, todos ligados ao chamado “Grupo Várzea”, que se julgavam atingidos por suas constantes denúncias, apenas dois foram julgados e absolvidos.

Dos outros três, um morreu e dois estão foragidos. O proprietário da Usina Tanques, líder do “Grupo da Várzea”, e o seu genro, então gerente da usina, foram acusados de mandantes do atentado contra a sindicalista.

Após sua morte, Margarida tornou-se um símbolo político e representativo das mulheres trabalhadoras rurais. Em 1988, Margarida recebeu, postumamente, o Prêmio Pax Christi Internacional (Paz de Deus, em latim), movimento católico de respeito aos direitos humanos, justiça e reconciliação em regiões devastadas por conflitos.

Em 2000, deu seu nome à “Marcha das Margaridas”. Essa mobilização ocorre sempre em agosto e reúne milhares de mulheres trabalhadoras rurais em Brasília. Na passeata, as mulheres apresentam pautas com reivindicações para melhorar a vida no campo e na floresta em todo o País. Elas reivindicam melhorias em relação à economia solidária, renda, agroecologia, segurança alimentar, emprego, dentre outros. A marcha é organizada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) e Central Única dos Trabalhadores (CUT).

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