Família

Posso obrigar os meus filhos à prática religiosa quando se “rebelam” na adolescência?

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Muitos pais se preocupam quando seus filhos adolescentes ou jovens assumem uma postura negativa diante de Deus, levando em consideração que todos receberam os valores religiosos no lar e, justamente quando conquistaram um pouco de autonomia, liberdade e razão, decidiram rejeitar tudo o que possa representar Deus.
 
Quando esta situação se apresenta nas famílias, alguns pais podem reagir de maneira coercitiva, obrigando seus filhos a ir à Missa ou participar das diversas atividades religiosas. Outros pais optarão por deixar que os filhos se afastem e que voltem a se encontrar com Deus por conta própria.
 
Conscientes de que esta não é uma tarefa fácil, o importante é agir de maneira adequada, para impedir que esse afastamento vá crescendo, pois muitas vezes as reações dos pais vai criando mais distanciamento ainda nos filhos.
 
Antes de explicar o que fazer quando se dá esta problemática, devemos analisar alguns fatores determinantes:
 
A fé tem etapas
 
A fé também tem um ciclo natural na vida do ser humano. O Pe. Calixto o descreve assim: “Nossa vivência religiosa passa por quatro etapas: aquela fé da Primeira Comunhão; uma segunda, que vivemos durante a adolescência, repleta de incertezas, altos e baixos; a terceira, na qual a fé parece evaporar e morrer na vida adulta; e talvez uma quarta: a fé recobrada, quando ajudamos os filhos em sua religiosidade”.
 
A rebeldia como característica própria da adolescência
 
Nesta etapa da vida, os seres humanos passam por uma fase de inconformismo e querem mudar seu statu quo. Muitas vezes, nem sequer sabem contra o que estão se rebelando, mas essa busca de identidade é seu foco, é o que os leva a desestabilizar tudo o que os cerca, inclusive seus pais. Há casos em que não se rebelam diante de Deus, mas sim dos seus pais, que se tornam para eles uma ameaça constante.
 
Entendendo este contexto, percebemos que a raiz do problema é a busca de identidade, e não necessariamente a rejeição de Deus.
 
Más influências
 
Uma pessoa próxima do nosso filho pode estar questionando a fé. Não nos esqueçamos de que, durante a adolescência, os amigos são as pessoas mais influentes na vida dos nossos filhos. E uma má amizade pode causar muito dano. Ao ver seu filho contestando a religião, é recomendável começar indagando sobre seus amigos, convidando-os à casa e tentando ter contato com suas famílias.
 
Ao confirmar que é este o problema, o melhor não é proibir tal amizade, e sim usar outras táticas mais sutis, que possam ir distanciando seu filho da pessoa inconveniente.
 
Controle extremo
 
Seus filhos já não são crianças e isso precisa ficar claro. Eles cresceram, podem raciocinar, fazer escolhas e têm poder de decisão, ainda que sejam imaturos. Quando exercemos um controle exagerado sobre eles, eles podem ficar contra nós. Nessa idade, já se supõe que os educamos nos valores e confiamos na educação que lhes demos. Portanto, não é aconselhável obrigá-los a nada nem impor a religião, porque certamente acabarão rejeitando-a.
 
O que fazer, então?
 
- Acompanhá-los, nunca deixá-los sozinhos. É preciso acompanhá-los neste processo.
 
- Nada de censuras e repreensões. Mesmo sabendo que eles estão errados, não é bom fazer comentários que os façam sentir-se mal. O tema de Deus não pode se tornar um pesadelo; o diálogo ameno e positivo dará melhores resultados.
 
- Exemplo e coerência. Nada educa mais que o exemplo. Precisamos ser coerentes com a Palavra de Deus e fazer que nossos atos estejam de acordo com o que professamos. Se nossos filhos nos veem tratando bem as pessoas, sendo honestos, respeitosos, responsáveis, pacientes, caridosos, amorosos, eles captarão a mensagem e acabarão aceitando os benefícios de ter Deus na vida.
 
- Falar-lhes positivamente de Deus, como um amigo, não como um castigador. Precisamos transmitir-lhes os ensinamentos de Deus de forma positiva, pois o Senhor ama todos nós e perdoa nossas falhas. Apresentemos Jesus como seu amigo, seu companheiro, seu protetor.
 
- Rezar pelos nossos filhos. Esta é a melhor coisa que podemos fazer, colocando-os nas mãos de Maria, para que voltem a se aproximar do Senhor.

Fonte: Aleteia

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Reflexão sobre a tentativa de inserção da ‘Ideologia do gênero’ no Plano Nacional de Educação

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Todo ordenamento jurídico está fundamentado na discriminação. Discrimina-se, por exemplo, quem trabalhou honestamente, e recebeu uma determinada quantia como salário, como sendo um “possuidor legítimo”, cuja propriedade deve ser protegida pelo Estado, daquele que, aproveitando-se da superioridade física ou mesmo da distração do legítimo possuidor, subtrai furtivamente esta mesma quantia – e que é tido como criminoso. Alguém que estudou e submeteu-se a concurso público, ou candidatou-se e foi eleito, é um legítimo servidor público e pode legitimamente exercer poder sobre a comunidade, enquanto aquele que, valendo-se da força das armas e do lucro do tráfico de drogas, domina uma comunidade é considerado um bandido e chefe de quadrilha – e deve ser preso e isolado do convívio social.

Existem, é claro, discrímens justos e injustos. Os justos são aqueles que decorrem das escolhas das pessoas, do uso bom ou mau da sua liberdade, do seu esforço e das suas forças pessoais. Os injustos são aqueles que decorrem de características pessoais inatas, como a cor, o sexo, a altura, a proveniência étnica, dentre outros que não se relacionam, nem direta nem indiretamente, com nenhum âmbito de escolha pessoal.

Assim, pode-se dizer que o ordenamento jurídico de um país deve preocupar-se tanto em promover as discriminações justas e adequadas (como aquela que separa os assalariados dos ladrões, ou os pais dos torturadores de criança) quanto em combater as discriminações injustas e insustentáveis, como aquelas que transformam em cidadãos de segunda categoria os provenientes de determinado grupo étnico. Posto isto, é absolutamente adequado dizer que discriminar injustamente é tão pernicioso quanto eliminar uma discriminação justa.

É por isto que tomar por bandeira a “eliminação pura e simples das discriminações” é uma imbecilidade. Um Estado que não saiba promover as discriminações justas é tão maléfico quanto um que promova as injustas. Imaginemos um Estado que não consiga distinguir trabalhadores de ladrões, ou servidores públicos de chefes de quadrilha, ou mesmo esposos de estupradores. Um Estado cego às discriminações justas. Seria revoltante, tão ou mais do que um Estado que não reconhecesse a cidadania plena às mulheres, ou aqueloutro que reconhecesse o direito de escravizar ou eliminar membros de uma minoria étnica. Ambos são execráveis.

A virtude estatal, aqui, está no meio. Naquele meio, como lembra Aristóteles na Ética a Nicômaco, (Livro 2, capítulo 6, linha 1006b), que não é quantitativo, mas qualitativo, e que, portanto, exige a prudência para ser discernido. É por isso que, sob o aspecto da justiça, é tão imprudente o jovem que carrega cartazes de “abaixo a discriminação” (pura e simples) numa manifestação, e equipara implicitamente trabalhadores a bandidos, quanto o que pertence a grupelhos intolerantes de machistas ou “skinheads”, por exemplo. Os primeiros querem eliminar insensatamente as discriminações justas. Os outros promovem violentamente as discriminações injustas.

Isto posto, vale testar se a pretensão de inserir, no nosso ordenamento, a proibição pura e simples de vedar “qualquer discriminação em razão da orientação sexual”, através da inserção de norma neste sentido no Plano Nacional de Educação, se enquadra nesta noção de promover “discriminação justa” ou combater a “injusta”. Este ponto é particularmente grave, porque será inserida numa lei que diz respeito à raiz da reprodução e da construção da nossa própria sociedade futura: a educação dos nossos jovens.

Tomemos como paradigma, para testar a justiça desta norma, a doutrina científica de um pesquisador particularmente conhecido como um combatente antirreligioso, o inglês Richard Dawkins (autor, dentre outras obras, de um livro denominado “Deus, um Delírio”, e portanto insuspeito de religiosidade). Bom, toda a pesquisa científica deste professor está baseada no evolucionismo neodarwinista, que insiste que a explicação básica da existência humana está na transmissão da sua própria carga genética à geração seguinte, por meio da reprodução dos mais aptos. Ele expõe esta doutrina, com seus próprios fundamentos científicos, em livros como “ O gene Egoísta” e “O Relojoeiro Cego”, além de possuir um sítio na internet onde publica seus estudos sobre a irrelevância (e mesmo perniciosidade) das religiões e sobre o poder de explicação científico da sua visão a respeito da sobrevivência do mais apto e da transmissão do patrimônio genético à próxima geração como fins últimos, e portanto explicações fundamentais, da própria vida e comportamento humanos.

A convicção de Richard Dawkins quanto ao poder científico de sua tese é tamanha que ele publicou recentemente um artigo de outro cientista, o dr. William Kremer, chamado “O Quebra-Cabeças Evolucionário da Homossexualidade” (http://www.richarddawkins.net/news_articles/2014/2/18/the-evolutionary-puzzle-of-homosexuality#) no qual este último cientista relaciona qualquer eventual vantagem evolutiva do comportamento homossexual a três fatores: 1) à reprodução e cuidado de uma prole própria, mesmo sem ou contra as próprias inclinações afetivas, 2) Ao cuidado com a prole de um parente muito próximo, multiplicando a capacidade de que seu “pool de genes” passe, por meio da carga genética deste parente, à próxima geração ou 3) à hipótese de que os mesmos alelos que causem a homossexualidade masculina estejam num cromossomo que, quando presente nas mulheres da família, multiplicam sua fecundidade e seu cuidado com a prole, favorecendo a continuidade daquele “pool de genes” na próxima geração.

Está claro, portanto, que, por meios estritamente científicos, e mesmo antirreligiosos, professores seriíssimos chegam à conclusão de que há diferença de valor nas “orientações sexuais”, e que portanto se pode validamente discriminar, por critérios científicos, aquelas condutas que envolvem o cuidado responsável com uma prole própria, gerada mesmo contra eventuais inclinações sexuais pessoais, ou com uma prole de um parente muito próximo, como uma irmã, daquelas orientações sexuais que envolvam a infertilidade deliberada e a promiscuidade não potencialmente fértil, seja entre pessoas do mesmo sexo, seja entre pessoas de sexos diversos, ou a provocação sistemática do aborto em si ou nas parceiras, como condutas indesejáveis do ponto de vista do sucesso evolutivo e sob um prisma exclusivamente científico.

Se, no entanto, a norma educacional brasileira proibir qualquer discriminação quanto à orientação sexual no seu sistema educacional, parece que estará aberta a porta para que qualquer grupinho de minorias sexuais radicais possa validamente pedir a supressão do ensino dessas teorias neodarwinistas (que valoram as condutas sexuais tendentes à reprodução do pool de genes como superiores àquelas que impedem ou mesmo suprimem esta reprodução) como preconceituosas àquelas minorias cuja “orientação sexual” não envolva nem a responsabilidade com uma prole própria, nem com o cuidado da prole de parentes muito próximos. E estarão perfeitamente cobertas por esta norma cuja aprovação está sendo proposta com o aval imprudente de uma grande parte da própria comunidade científica. Esta mesma comunidade que será em seguida censurada por estas minorias a quem hoje imprudentemente se alia, e que imprudentemente desqualifica os adversários desta norma injusta como irracionalistas religiosos.

Bom, os religiosos às vezes podem ser mais racionais que os cientistas: enquanto a liberdade de falar mal, respeitosamente, da religião alheia parece bem razoável às pessoas religiosas (que admitem, portanto, a liceidade das especulações religiosas de Dawkins, embora discordem delas no mérito), alguns cientistas que apoiam a introdução da norma que veda a discriminação de condutas em razão da “ideologia do gênero” na educação estão, em seu ódio a Deus, cegos para o fato de que combater a liberdade religiosa neste particular é também combater a própria liberdade científica.

Por Paulo Vasconcelos Jacobina

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NÃO à ‘ideologia do gênero’: “Um filho sempre tem pai e mãe, e não “genitor 1″ e “genitor 2″

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UM PAI OU UMA MÃE PODE DOAR TODA SUA HERANÇA PARA APENAS UM DOS FILHOS

Existe alguém, nos salões do Parlamento da União Europeia, que está lutando para defender o direito das crianças de chamar seus pais de… pai e mãe. É um direito aparentemente óbvio, pelo qual ninguém precisaria estar lutando. Mas… De acordo com uma terminologia escolar que parece estar se espalhando como fogo por alguns países-membros da União Europeia, até mesmo este direito evidente está sendo inesperadamente pisoteado.

É por isso que, na semana passada, a eurodeputada italiana Cristina Muscardini se mobilizou: mulher combativa, ela escreveu de próprio punho uma carta ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos e fez um questionamento parlamentar.

Ela nos conta: “Nós temos um fenômeno que está ganhando cada vez mais terreno: o de uma burocracia que distorce a realidade para promover o suposto ‘politicamente correto’. Em vários países-membros da União Europeia e em várias localidades da Itália, estão substituindo os campos ‘pai’ e ‘mãe’, nos formulários escolares, por umas ‘figuras mitológicas’ em ordem hierárquica: ‘genitor 1’ e ‘genitor 2’”.

Muscardini considera essa tendência “grotesca” e dispara: “Não podemos aceitar isso. E não é por razões ideológicas nem religiosas, mas simplesmente porque é contra os fatos reais e contra a lei da natureza: um filho tem um pai e uma mãe, sejam eles conhecidos ou não”.

Quando pergunto até que ponto, mesmo não tendo jurisdição sobre tais assuntos, a União Europeia está incentivando uma cultura que põe em xeque o conceito tradicional de família, Muscardini me responde com palavras contundentes: “Desde os relatórios Estrela e Lunacek, em praticamente todas as sessões plenárias nós ficamos discutimos leis que querem regulamentar a sexualidade das pessoas impondo normas europeias.

Se o relatório Estrela foi mandado embora do Parlamento Europeu pela porta, os princípios contidos nele voltaram a Estrasburgo pela janela, através do relatório Lunacek, aprovado no mês passado. Muscardini acredita que é “louvável” a iniciativa do relatório de combater a homofobia, mas vê nele “contornos lábeis que podem minar a liberdade de expressão para aqueles que, sem ser homofóbicos, criticam certas configurações familiares e as normas que as regulamentam”.

A eurodeputada se diz preocupada com este novo relatório: “O objetivo dele é levar para as escolas, desde bem cedo, a ideologia de gênero. E mais importante: ele invade o campo dos direitos da família, que é de competência dos países-membros. É um sinal que alguns grupos dentro do Parlamento Europeu quiseram dar à sociedade”. Mas, levando em conta que “isso não terá um grande impacto do ponto de vista legislativo”, a parlamentar vê o relatório como algo confinado ao âmbito da “mera propaganda”.

Muscardini, porém, espera atenção maior da UE para questões mais urgentes. “É muito estranho que haja tanto ativismo no tocante à sexualidade e um silêncio tão culpado no tocante à situação das crianças na Europa”. Sua referência é ao “Jugendamt”, instituto alemão que, no caso de filhos de casais mistos, determina que as crianças filhas de pai ou mãe alemães devem viver na Alemanha, falar alemão e não ter praticamente nenhuma relação com o progenitor não-alemão, nem com sua família, nem com sua cultura. “Numa Europa que liberalizou bens e pessoas, as crianças ainda não têm direitos iguais nos diferentes países da União. Isso não vai favorecer o nascimento nem o crescimento da própria União”.

Voltando aos esforços contra a terminologia extravagante, a deputada italiana no Parlamento Europeu apresentou uma proposta alternativa aos termos “genitor 1″ e ” genitor 2″: “Na sociedade moderna, também existem tutores, pais adotivos, casais gays, pais divorciados e recasados​​, mães solteiras, enfim, uma série interminável de casuísticas que poderíamos reunir no termo ‘outros’. É isso o que eu proponho como alternativa: incluir a categoria ‘outros’ ao lado de ‘mãe’ e ‘pai’. Esta é uma proposta inclusiva, não exclusiva”.

“Não temos que pensar só nos casais homossexuais, que, aliás, não são tantos, mas também nos avós, tias, tios, tutores e pessoas que adotam ou cuidam de órfãos ou de crianças obrigadas a se separar dos pais por causa de situações-problema”.

Pergunto a ela se esta é uma proposta concreta ou uma provocação.

Ela responde: “É uma proposta inclusiva e de bom senso”. Depois de um suspiro, porém, ela completa: “Mas o bom senso, na Itália de hoje, já virou uma provocação”.

Por Federico Cenci

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Que tipo de vida o meu filho vai ter? 15 portadores da síndrome de Down respondem à futura mãe com filho Down

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Uma mulher descobriu que seu bebê era portador da Sindrome de Down. Preocupada,  ela resolveu enviar um e-mail perguntando a CoorDown, organização italiana de apoio a pessoa com Down, sobre o tipo de vida que seu filho teria.

A resposta veio de um jeito bastante criativo. A filial italiana da rede internacional de agências de publicidade e propaganda Saatchi & Saatchi produziu uma campanha em que 15 portadores da síndrome de Down respondem à futura mãe. 

 - os participantes afirmam de modo bastante convicente sobre a possibilidade de uma vida feliz e repleta de sonhos e conquistas. O anúncio foi produzido especialmente  para o dia mundial da Síndrome de Down que é celebrado no dia 21 de março.

Por ocasião da data, vale a pena refletir sobre as agendas pró-aborto que se intensificam pelo mundo. As pessoas com Down demonstram, a cada dia, sua capacidade de conviver e interagir.

Basta lembrar o caso de Ángela Bachiller, 30 anos, que tornou-se a primeira vereadora da Espanha portadora da síndrome além do jovem Lucca, recebido pessoalmente por Bento XVI e dos três argentinos Camila Merida, Martina Mailandi, 17, e Manuel Castello, 14, que estiveram com o papa Francisco durante a Jornada Mundial da Juventude, em julho de 2013, no Rio de Janeiro. 

 ACI Digital

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Pai de seu pai: “O que um pai quer apenas ouvir no fim de sua vida é que seu filho está ali”

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Todo filho é pai

” Há uma quebra na história familiar onde as idades se acumulam e se sobrepõem e a ordem natural não tem sentido: é quando o filho se torna pai de seu pai.

É quando o pai envelhece e começa a trotear como se estivesse dentro de uma névoa. Lento, devagar, impreciso.

É quando aquele pai que segurava com força nossa mão já não tem como se levantar sozinho. É quando aquele pai, outrora firme e instransponível, enfraquece de vez e demora o dobro da respiração para sair de seu lugar.

É quando aquele pai, que antigamente mandava e ordenava, hoje só suspira, só geme, só procura onde é a porta e onde é a janela – tudo é corredor, tudo é longe.

É quando aquele pai, antes disposto e trabalhador, fracassa ao tirar sua própria roupa e não lembrará de seus remédios.

E nós, como filhos, não faremos outra coisa senão trocar de papel e aceitar que somos responsáveis por aquela vida. Aquela vida que nos gerou depende de nossa vida para morrer em paz.

Todo filho é pai da morte de seu pai.

Ou, quem sabe, a velhice do pai e da mãe seja curiosamente nossa última gravidez. Nosso último ensinamento. Fase para devolver os cuidados que nos foram confiados ao longo de décadas, de retribuir o amor com a amizade da escolta.

E assim como mudamos a casa para atender nossos bebês, tapando tomadas e colocando cercadinhos, vamos alterar a rotina dos móveis para criar os nossos pais.

Uma das primeiras transformações acontece no banheiro.

Seremos pais de nossos pais na hora de pôr uma barra no box do chuveiro.

A barra é emblemática. A barra é simbólica. A barra é inaugurar um cotovelo das águas.

Porque o chuveiro, simples e refrescante, agora é um temporal para os pés idosos de nossos protetores. Não podemos abandoná-los em nenhum momento, inventaremos nossos braços nas paredes.

A casa de quem cuida dos pais tem braços dos filhos pelas paredes. Nossos braços estarão espalhados, sob a forma de corrimões.

Pois envelhecer é andar de mãos dadas com os objetos, envelhecer é subir escada mesmo sem degraus.

Seremos estranhos em nossa residência. Observaremos cada detalhe com pavor e desconhecimento, com dúvida e preocupação. Seremos arquitetos, decoradores, engenheiros frustrados. Como não previmos que os pais adoecem e precisariam da gente?

Nos arrependeremos dos sofás, das estátuas e do acesso caracol, nos arrependeremos de cada obstáculo e tapete.

E feliz do filho que é pai de seu pai antes da morte, e triste do filho que aparece somente no enterro e não se despede um pouco por dia.

Meu amigo José Klein acompanhou o pai até seus derradeiros minutos.

No hospital, a enfermeira fazia a manobra da cama para a maca, buscando repor os lençóis, quando Zé gritou de sua cadeira:e

— Deixa que eu ajudo.

Reuniu suas forças e pegou pela primeira vez seu pai no colo.

Colocou o rosto de seu pai contra seu peito.

Ajeitou em seus ombros o pai consumido pelo câncer: pequeno, enrugado, frágil, tremendo.

Ficou segurando um bom tempo, um tempo equivalente à sua infância, um tempo equivalente à sua adolescência, um bom tempo, um tempo interminável.

Embalou o pai de um lado para o outro.

Aninhou o pai.

Acalmou o pai.

E apenas dizia, sussurrado:

— Estou aqui, estou aqui, pai!

O que um pai quer apenas ouvir no fim de sua vida é que seu filho está ali. “

(autor desconhecido)

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