A diversão e a “night”

 Cada vez mais os pais ficam com os cabelos arrepiados quando ouvem a seguinte exigência do filho adolescente: “Hoje à noite vou sair e não sei a que horas vou voltar”. Esta realidade, que nos últimos anos tem aumentado muito de intensidade, tanto em freqüência quanto em duração, esconde uma série de fatores que nem sempre são nocivos.

Por Joao Malheiro:

A night – como é vulgarmente chamada – traz aos adolecentes (e aos adolescentes tardios....) todo o encanto de experimentar pela primeira vez uma sensação de liberdade, de independência, de prazer que, naturalmente, é essencial em todo o processo dinâmico da passagem da fase denominada adolescência para a adulta. A noite, sem tempo nem espaço, onde “todos os gatos são pardos”, tem um poder sedutor imenso para todo o jovem que anda em busca da sua identidade, do seu primeiro romance e das primeiras amizades mais profundas e duradouras.

Por outro lado, os pais e educadores não podem ser ingênuos e pensar que não devem interferir nessa fase da vida de seus filhos. Argumentos como “o importante é deixá-los experimentar, para poderem gozar um pouco a vida a que têm direito” são falaciosos. Quantos pais hoje se arrependem de não ter sido mais firmes no momento de “negociar” as saídas!

É preciso ter consciência de que o jovem, nessa idade, sente-se cada vez mais inseguro e indefeso para filtrar as mensagens que recebe todos os dias pelos veículos de comunicação e pelos amigos. Essas dissonâncias afetivas, que todos os corações jovens experimentam e sofrem, levam-nos a buscar alguma forma de compensação. O “deixar-se levar” pelo que a maioria faz para se sentir aceito, estimado e amado é normalmente a solução da maioria. O grande “protagonista” no processo decisório não é a própria cabeça do adolescente, aquilo que os seus valores – até então inquestionáveis – exigem dele, mas um sentimento cego e muitas vezes terrorista.

É nessa hora que a presença “virtual” do conselho amigo dos pais é decisivo. Quando a comunicação entre pais e filhos é uma realidade quotidiana, em que existe tempo para se dedicarem afetuosamente uns aos outros, os riscos são sensivelmente diminuídos. Entretanto, quando o descontrole e a passividade reinam na vida familiar, os desgostos futuros serão uma decorrência inevitável. É fundamental “negociar” as saídas com os filhos. Aonde vão, a que hora chegarão, com quem vão, como vão – mesmo que isso possa parecer “careta” e “antipopular”. Uma indicação precisa, uma dica de prudência, um conselho soprado ao ouvido, dados com carinho e confiança, têm uma força enorme.

Muitos pais dizem que se sentem distantes dos filhos e privados de autoridade. è natural que a confiança e o respeito pela autoridade – dois pré-requisitos essenciais de toda a educação – não sejam características inatas e nem próprias da adolescência. Por isso mesmo é mais necessário conquistá-las com o exemplo e o diálogo.

Quantas vezes a indiscutida autoridade paterna – onipresente e perfeita – é esfumaçada quando os pais também chegam da night a altas horas e cheirando a bebida. Ou ainda, quando o que dizem ou mandam não é coerente com o que vivem.

Outras vezes, a dificuldade em ganhar a confiança dos filhos é uma decorrência de atitudes despóticas e inflexíveis, como se os jovens fossem “bibelôs” que se deixam dispor passivamente... É muitíssimo eficaz deixá-los opinar quando nos consultam sobre os seus projetos, mesmo que nós os consideremos imprudentes, e até quando realmente o são... E também é altamente produtivo pedir-lhes conselho em decisões pessoais e familiares... E pode ser decisiva ainda, inúmeras vezes, um bom passeio no domingo à tarde ou a ida estafante ao estádio de futebol...

Saibamos defender os nossos filhos, pois são o nosso grande tesouro! Percamos o medo de aconselhá-los, de negociar e às vezes de exigir. E não deixemos também de mostrar-lhes que a night não é o único modo de divertir-se e tornar-se independente. Há muitas outras formas interessantes de diversão que eles poderiam e deveriam conhecer.

João Malheiro é consultor educacional e diretor do Centro Cultural das Laranjeiras

fonte:Interprensa

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