O fascinante mundo dos bebês no útero das mães contrasta com o mundo trágico e egoísta dos abortistas.

Uma interessante entrevista com Dr. José Raimundo Lippi . O entrevistado é professor de Psiquiatria da Infância e da Adolescência do Departamento de Psiquiatria e Neurologia da UFMG .

Jornal Estado de Minas

“EM- Existe mesmo uma comunicação do feto com sua mãe? Porque a gente já ouvia falar nisso como algo esotérico, místico. Hoje a ciência já pode comprovar esta comunicação?

Raimundo- Pode e eu posso citar nomes de cientistas e de laboratórios onde isto vem sendo comprovado. Na verdade, há mais de mil anos, a China organizou suas clínicas pré-natais porque acreditava-se que as crianças, dentro do útero, sofriam influências da mãe. Muitas coisas viraram mito, como por exemplo mulheres grávidas não poderem levar sustos, não poderem se aproximar do fogo etc. Se formos percorrer a Bíblia ou os livros de Hipócrates, já se falava em uma vida intra-uterina. Quem falou disso primeiro, com muita certeza, foi um artista, Leonardo da Vinci, em cujos escritos estão: “Uma mesma alma governa dois corpos. As coisas que a mãe deseja imprime-se na criança que ela traz no útero. Todo querer, todo desejo supremo da mãe, toda dor, todo medo, pode atingir poderosamente a criança e, ás vezes, mata-la”. Isto Leonardo da Vinci falou a quatro séculos.

EM- Mas ele falou por intuição, sem base científica. Como é que a ciência comprova esta comunicação da mãe com o feto?

Raimundo – Nas décadas de 40 e 50, cientistas afirmavam que as emoções sentidas pela mãe repercutiam sobre a criança que ela carregava. Podemos citar o exemplo de David Winnicott, da Universidade de Londres; Igor Caruzo, da Universidade de Salsburgo; Lester Sotang, dos Estados Unidos; Frederick Kruse, da Alemanha e Hans Graber, da Suíça. Somente em meados dos anos 60 é que a tecnologia médica permitiu comprovar muitas destas intuições. Neurologistas como Dominick Púrpura, da Faculdade de Medicina Albert Einstein de Nova York; Maria Salam e Richard Adams têm provas fisiológicas sólidas e irrefutáveis de que o feto é um ser capaz de reações auditivas, sensoriais e afetivas. E foi a partir daí que começou a surgir a Psicologia Pré-natal.

EM – È este o nome que se dá a esta área?

Raimundo – Sim. È psicologia Pré-natal. Os nascituros, após esta ciência, passaram a ser compreendidos como muito mais avançados.
Por exemplo: com cinco semanas, eles têm ações reflexas muito mais complexas que podem ser vistas através de filmes. Com oito semanas, o feto tem uma linguagem gestual, ele fala com o corpo, mexe com facilidade com a cabeça, os braços, as costas e já utiliza isto como uma linguagem. Ele mostra aversão ou prazer a alguma coisa. Sabe-se que ele detesta ser manipulado. Com dez semanas mais ou menos, o feto se encolhe quando apertamos o estômago da mãe ou quando beliscamos a barriga dela. Outra coisa interessante: Por que é que se percebe, ás vezes, que um bebê é um pouco agitado á noite, depois de nascido? Porque ele viveu uma experiência dentro do útero, quando a mãe, nos últimos meses, torna-se agitada, com dores nas costas e nas pernas, com azia e dorme mal, movimentando-se muito…

EM – Eu queria saber se o feto pensa.

Raimundo – Primeiro é preciso saber o que é pensar. O pensamento varia de acordo com as etapas de desenvolvimento cognitivo. Uma criança de seis anos não pensa como eu penso. Nós já somos capazes de formar hipóteses e projetar, deduzir coisas. O pensar exige um sistema nervoso em desenvolvimento. E isto faz com que alguns pesquisadores digam que o feto não pode pensar. Mas ele pensa sim, com os recursos que ele tem.

EM – Este pensar do feto não é algo mais ou menos misturado com o sentir?

Raimundo – Exatamente. È uma generalização de sentimentos que envolve todo o corpo, que está muito impregnado das emoções da mãe. O que se afirma é que, a partir dos seis meses, ele pensa, tem reações de alegria, de tristeza. Aos quatro meses, o corpo fala sob a hegemonia da face, ele já levanta as sombrancelhas, repuxa os olhos, faz caretas, pisca, franze os lábios. Aos seis meses ele alcança a sensibilidade de uma criança de um ano de idade. Nesta fase o feto tem também paladar. Sabe-se que o líquido aminiótico é pouco doce. Se você colocar sacarina nele, o bebê adora e deglute vorazmente. Se você colocar sabores desagradáveis, ele pára de digerir e gesticula.

EM – Eu estou pensando aqui que este estudo vai mudar muito as opiniões em relação aos abortos, não é?

Raimundo – Vai mudar sim. A concepção do ser humano deve mudar muito nos próximos anos porque a sociedade é muito ciosa de que precisa de provas e documentos para dizer o que é verdade, senão fica no plano da intuição. Embora saibamos que os idealistas foram os grandes responsáveis pelo crescimento da ciência. Só para completar, é preciso dizer que , aos seis meses, a criança tem uma sensibilidade muito grande em relação aos barulhos…

EM – Pelo que você está me falando, toda esta comunicação se dá através da mãe, não é? Ele ouve, sente, percebe, pela mãe. Eu ouvi outro dia um psicólogo desta mesma área dizer que até o pai que o bebê sente e percebe quando está dentro do útero, é aquele que a mãe percebe e vê. A mãe é o veículo, ela passa para o filho o pai que ela enxerga. Não é muito grande a responsabilidade da mãe?

Raimundo – É sim, é muito grande. Mas é o preço que se paga por ser mulher e de ter o primeiro universo do homem que é o útero. Podemos afirmar hoje, sem medo, que muitas das experiências vividas dentro do útero são passadas para o individuo. Já se pode afirmar hoje: Bebê feliz, adulto sadio. Não é possível ser um adulto sadio se ele não passou por uma gestação feliz. Aliás, ele pode até alcançar o equilíbrio, a saúde, mas terá que trabalhar muito para isso. Voltando á mãe, ela é a transportadora das emoções que ela viveu com o pai. Se ela é amada pelo companheiro, se ele lhe dá segurança, o bebê, já dentro do útero, começa a levar uma vida saudável. Já gravaram vozes de pais que costumavam falar com seus filhos ainda na barriga da mãe. Ficou comprovado depois que, após o nascimento, os pais são reconhecidos por seus filhos e se acalmam com a sua voz.

Em – O que é que o bebê já nasce sabendo?

Raimundo – Com toda a certeza , ele já nasce sabendo se é amado ou rejeitado. Eu quero falar de um aspecto fundamental que tem a ver com este amar. Eu falei no barulho e é preciso dizer que o útero é muito barulhento: o som da barriga , o som da casa. Mas há um som especial que é a batida do coração da mãe e que tem a ver com as emoções dela. Um coração batendo regularmente é calmo, faz o bebê se sentir seguro. O ritmo cardíaco é muita responsabilidade da mãe porque é transmitido ao bebê durante os nove meses. Já fizeram experiência colocando uma fita gravada com o coração de uma mãe batendo em um berçário. Os bebês dormiram melhor, ficaram mais calmos, sorriram. Outra experiência: o maestro canadense Boris Brott, ao ser entrevistado certa vez, disse que seu amor pela música nasceu quando ele ainda estava no útero da mãe. E confessou que, muitas vezes, ao executar uma peça pela primeira vez, era capaz de antecipar determinadas notas antes de virar a página. E que havia descoberto que estas peças eram tocadas pela sua mãe violoncelista quando estava grávida dele.

Em – Do que é que o bebê se lembra depois que nasce?

Raimundo - A memória, segundo Elias Canetti, um neurofisiologista de Milão, começa a partir do terceiro mês de gestação. O doutor Púrpura, que é editor de uma revista sobre o desenvolvimento cerebral, diz que as lembranças têm a ver com o que a mulher viveu e o que o bebê pôde viver. Você falou aí em amor. Como amar se ele não tiver sido amado? Nos Estados Unidos foi feita uma pesquisa onde mais de 500 mulheres que faziam pré-natal, de nível universitário, e eram bem alimentadas. Fizeram a elas a seguinte pergunta: O que você mais pensa neste momento da sua vida? Para surpresa dos pesquisadores, mais de um terço delas não pensavam em seus bebês. A partir desta pesquisa foram pesquisar bebês de mulheres esquizofrênicas e chegaram á conclusão de que os filhos delas têm o desenvolvimento físico, mental e intelectual danificado.

EM – É mais ou menos natural que mulheres e homens idealizem seus filhos. Isto é saudável ou pode prejudicar a criança?

Raimundo – Não existe um ser humano que não idealize seu filho. O filho já existe na imaginação de todo mundo, até antes da concepção. È saudável idealizar. Esta sensação de que o desejamos é levada até ele.

EM – Mas e quando o filho que nasce não corresponde ao filho idealizado?

Raimundo – Acontece a frustração e isto é natural. Vou te falar de uma outra experiência para mostrar como o bebê tem consciência do pensar e do sentir da mãe…

Em – Você disse do pensar? Quer dizer que, quando estou grávida, meu bebê sabe o que estou pensando? Como é que isto acontece?

Raimundo – Sim, claro. Duas pesquisas importantes foram feitas. Uma delas é da professora Mônica Luckesh, da Universidade de Frankfurt. Ela entrevistou e examinou 2000 mulheres. E a conclusão a que ela chegou é que a atitude da mãe tem uma importância primordial sobre o ser que vai nascer. As mães que rejeitavam colocaram no mundo crianças inseguras, frágeis do ponto de vista físico e emocional. Ela acompanhou estas crianças por longo tempo. Os filhos de mães que rejeitam os bebês adoecem mais.

Outra pesquisa é do doutor Gerald Rotmann, da Áustria. Ele examinou e entrevistou 141 mulheres grávidas e as dividiu em quatro categorias em função da atitude delas diante da gravidez. Num grupo, ficaram as mães ideais, as que revelaram desejar seu bebê conscientemente e inconscientemente. Os partos delas foram os mais tranquilos e os bebês saudáveis. No lado oposto, ele compôs o grupo que chamou de mães catastróficas, aquelas que rejeitavam claramente seus filhos. Eles tiveram sérios problemas durante a gravidez, registraram o maior número de abortos e pré-maturos e tiveram filhos com problemas emocionais. O mais interessante foram os grupos intermediários, um dos quais ele denominou de mães ambivalentes. Elas proclamavam com alegria estarem grávidas mas, no fundo, não desejavam a criança. Este sentimento inconsciente de rejeição não enganou os filhos que também nasceram com problemas…

EM – Este desejo que você chama de inconsciente seria o pensamento da mãe? Seria o caso da mãe que está preparando o quartinho, comprando o bercinho e, no seu íntimo, pensando: este Bebê vai atrapalhar a minha vida? È isso?

Raimundo – É exatamente aí que entra o cognitivo, o conhecimento das coisas. Não se engana um feto. Estes bebês nasceram com problemas gastroentestinais, com problemas de pele etc. No quarto grupo, o pesquisador encontrou o que ele chamou de mães indiferentes. Os fetos pareciam perturbados pelas mensagens confusas que recebiam. Existiam razões objetivas das mães para não poder engravidar, mas, no fundo, elas queriam os filhos, ou seja: conscientemente, a gravidez era indesejada, mas inconscientemente, era desejada. Resultaram deste grupo bebês apáticos, letárgicos. Repito: o bebê não se deixa enganar dentro do útero.

EM – O que é que uma mãe não deve fazer nunca quando está grávida?

Raimundo – Ela não deve fazer o que é contra ela e, conseqüentemente, contra o bebê. A mulher tem a responsabilidade biológica de não deixar a espécie morrer; a responsabilidade social de manter seres convivendo comunitariamente e a responsabilidade humanística de produzir seres mais saudáveis. Não existe escola para preparar mães. Elas são formadas no vapt-vupt da vida, copiando modelos, lendo, consultando especialistas. As mães que foram amadas quando bebês não têm com o que se preocupar.

EM – Para resumir , a fórmula é o amor.

Raimundo – Lógico. Se a mãe ama o seu bebê, nada do que ela fizer irá prejudica-lo.

EM – Na sua opinião, cuidando de bebês ainda dentro do útero, a gente pode transformar a humanidade?

Raimundo – Temos sim esta oportunidade. Eu não sou tão idealista e ingênuo a ponto de pensar que isso seja fácil. Mas, na medida em que a humanidade for descobrindo o bebê dentro do útero, ela própria poderá se transformar. Eu que já ganhei o título de protetor da infância, quero mostrar que podemos proteger as crianças muito antes de elas irem para as ruas, preparando as mães grávidas.

Fonte: http://www.providafamilia.org.br/doc.php?doc=doc52924

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