Seria o comportamento humano DETERMINADO pelos genes?

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Após a descoberta dos genes, a ideia da genética passou a ser cultuada como um dogma e, devido a isso, chegou-se a fanatismos, como a eugenia, teoria que visava selecionar uma raça pura e que matou milhões de seres humanos nos regime nazista.

Não obstante, a essas atrocidades cometidas num passado recente, hoje em dia, ainda é forte a crença sustentada por alguns grupos (dentre eles, os ditos “humanistas seculares”) que pregam que o comportamento humano é determinado pelos genes, irresistivelmente. O que resulta na crença de que se alguém tem um comportamento moralmente errado, por exemplo, este é irresistível, porque, supostamente, estaria nos genes dele e nada se pode fazer… Restaria se render e ninguém poderia questionar nada, somente dizer “amém” 

Na verdade, por causa dessa conotação quase espiritual, quase sobrenatural, essa crença está muito mais próxima das pseudociências do que das ciências. E o que se diria dos ex-gays (inclinação homossexual é diferente de comportamento homossexual, a Igreja reconhece que muitos irmãos possuem desafios nessa área mas reafirma sua crença na liberdade humana sustentada pela graça) e dos exemplos abundantes de pessoas que mudam de vida e de comportamento, muitas vezes sem nenhuma conotação religiosa?

Estudos sugerem que a influência dos genes num indivíduo existem, no entanto muito longe de serem as forças irresistíveis de “entidades poderosas” propostas pelos crentes do Todo-Pederoso Deus Gene.

A relação do gene com o comportamento humano não é de determinância. O fator que realmente determina o comportamento de alguém é o ambiente em que ele vive e, principalmente, o que teve em sua idade de formação psicológica: a infância.

O suposto “comportamento criminoso” tem sido um foco no campo da psicologia por muito tempo. Seria a reatividade da constituição genética de um indivíduo que o torna um suposto “criminoso“, ou seria o ambiente no qual ele cresceu que determina isso?
 
A maioria dos psicólogos e geneticistas comportamentais hoje tenta tratar dessa subjetividade através da redução de supostas “tendências criminais” a comportamentos denominados anti-sociais, impulsivos e agressivos. Por mais amplas e interpretativas que essas caracterizações possam ser. Eles também catalogam e examinam supostos “distúrbios de personalidade“, tais como a indecisão, esquizofrenia e obsessão.
 
A ideia da genética como a razão do suposto comportamento aberrante tornou-se popular no início do século XIX. Foram feitas até mesmo operações eugênicas na forma de esterilização a fim de “livrar a sociedade de criminosos, idiotas, imbecis e estupradores”. Contudo, os geneticistas comportamentais irão hoje admitir que ninguém jamais encontrou um “gene criminoso“.
 
Antes, o trabalho deles hoje tende a focar-se na interação de neuroquímicos” no cérebro, juntamente com estudos baseados em observações que envolvem família, gêmeos e adoção.
 
A começar com os estudos baseados em observações, hoje está muito bem provado que a família e estudos de gêmeos criados juntos (gêmeos que crescem juntos) são métodos ineficientes de pesquisa genética comportamental. Esses métodos se confundem com fatores ambientais, já que os membros da família partilham do mesmo ambiente.
 
No entanto, pesquisas de “gêmeos criados separadamente” aparentam serem métodos melhores, pois os ambientes são pelo menos consideravelmente diferentes dos ambientes da família original. Hoje, os estudos mais frequentemente citados que defendem princípios genéticos para distúrbios de personalidade e tendências comportamentais provêm de “estudos de gêmeos criados separadamente”.
 
Embora o estudo de gêmeos criados separadamente pareça eliminar o problema de influências ambientais mútuas com relação a padrões familiares, esse método é contaminado pelo problema de os gêmeos crescerem em ambientes muito similares: social, econômica e culturalmente.
 
Por exemplo, um dos mais famosos estudos de gêmeos criados separadamente foi um que é muitas vezes chamado de Estudo de Minnesota. Trezentos e quarenta e oito pares de gêmeos foram estudados na Universidade de Minnesota, sendo o caso mais notável desse estudo, frequentemente citado em defesa da origem genética para o comportamento, conhecido como o caso dos “gêmeos Jim“.
 
Jim Lewis e Jim Springer foram separados quatro semanas depois de nascerem em 1940, eles cresceram 72 quilômetros distantes um do outro em Ohio e foram reunidos em 1979.
 
O estudo desses gêmeos idênticos reunidos posteriormente produziu as seguintes concordâncias:
 
· Ambos os gêmeos estavam casados com mulheres de nome Betty e divorciados de mulheres de nome Linda;
· Um colocou em seu primogênito o nome James Alan, enquanto o outro deu a seu primeiro filho o nome James Allan;
· Ambos os gêmeos tinham um irmão adotado cujo nome era Larry;
· Os dois puseram em seu cão de estimação o nome “Toy“;
· Ambos haviam tido algum treinamento de imposição da lei e tinham sido assistentes de xerife em Ohio;
· Os dois eram ruins em ortografia e bons em matemática;
· Os dois fizeram carpintaria, desenho mecânico e serigrafia.
 
Em primeiro lugar, que fique bem claro que ambos os “Jims” cresceram somente a 72 quilômetros um do outro em Ohio. Considerando a proximidade dos gêmeos e as disposições culturais comuns da região, é seguro afirmar que os dois homens foram sujeitos a valores e tradições bastante similares.
 
Culturalmente, Ohio como um todo tem pouca diversidade quando comparada a outros estados. 86% do estado é branco, ao passo que 82% é cristão. Isso é importante porque quanto menos diversidade uma região possuir, mais uniformes serão as influências ambientais. Outro importante elemento que esse autor não pôde expressar devido à falta de informação disponível é as disposições culturais e valores dos pais envolvidos. Se os pais dos dois “Jims” também fossem nativos da região de Ohio para onde eles foram levados, reforçaria ainda mais a propensão de semelhanças culturais e, portanto, comportamentais.
 
Quanto aos dois estarem casados com mulheres de nome Betty e divorciados de mulheres de nome Linda, no topo dos mil nomes femininos mais comuns em existência nos Estados UnidosLinda é o 3º e Betty, o 14º. Isso é estaticamente incrível em vista dos nomes em existência, mostrando uma grande probabilidade de coincidência. Quanto aos nomes “James Alan” e “James Allan“, o nome mais comum nos Estados Unidos é… James!
 
Quanto ao Allan/Alan, seria necessário realizar mais pesquisas sobre o motivo cultural por trás desses nomes do meio na região de Ohio em que ambos viveram. Em relação aos “dois gêmeos terem um irmão adotado cujo nome era Larry“, isso é uma coisa muito estranha dos pesquisadores de Minnesota relatarem, pois a tradição de dar nome aos filhos vem comumente dos pais, não dos outros filhos. O que isso na verdade revela nada tem a ver com os “gêmeos Tim“, mas sim mostra uma poderosa semelhança cultural dos pais. Se cada um dos pais tinham a propensão dar a um filho o nome Larry, isso então sugere que os pais eram provavelmente muito similares culturalmente, revelando assim que que as influências ambientais nos dois “Jims” eram também bastante semelhantes.
 
Depois vêm os cães chamados “Toy“. Bem, embora “Toy” não seja um nome de cachorro comum, precisamos descobrir de onde veio o nome em primeiro lugar.
 
Alguém tinha de sugerir o nome aos “Jims” para que eles o conhecessem primeiramente. O motivo para esse nome pode ter muitas faces e ser derivado logicamente do ambiente. Por exemplo, quase todos os cães domésticos tradicionalmente têm brinquedos (em inglês, “toys“) dados por seus donos. O advento do nome “Toy” pode ter vindo de uma associação feita por um jovem Jim ouvido um dos pais se referindo ao brinquedo (toy) quando brincava com o cão.
 
Houve casos históricos, por exemplo, de mães que diziam aos filhos que estavam apenas aprendendo a falar algo como “papai chegou em casa” ao anunciarem a chegada do pai para o filho. A criança eventualmente ouviria essas palavras e as associaria com o pai entrando em casa. Nessa situação comum, algumas crianças confundiram a figura do pai com a palavra “casa” em vez de “papai“. Nesse caso, elas depois perguntariam “quando casa vai voltar pra casa?“. Em outras palavras, a palavra brinquedo (toy, em inglês) poderia ter sido um nome referido que foi redefinido pelo contexto. No caso dos gêmeos Jims, não temos informações suficiente para saber se o nome “Toy” é genético ou ambiental, mas o bom senso tende naturalmente para o ambiente.
 
Mas o propósito aqui não é desenvolver uma investigação cheia de argumentos sobre a falta de validade do estudo dos gêmeos. O ponto aqui é expor que fatores culturais orientados dentro da sociedade são tão poderosos quanto fatores familiares. Os “gêmeos Jim” cresceram na mesma região e tiveram influências de valores e ambientais similares. Essa questão deve ser fatorada e deve ser feita uma profunda análise sobre as causas culturais envolvidas no estudo. No geral, o estudo dos gêmeos, embora muito elogiado, demonstra extrema fraqueza na compreensão da verdadeira casualidade de uma concordância em particular.
 
Contudo, isso não significa que a genética não exerce uma influência em nossas vidas. É muito importante considerar os verdadeiros traços genéticos e os efeitos que eles provocam quando misturados com a cultura.
 
Apesar de a maioria concordar que atributos físicos como cor dos olhos, altura e algumas alergias são genéticos, muitos não consideram as consequências desses atributos na formação do ambiente dessa pessoa. Por exemplo, suponhamos que alguém tenha dois gêmeos idênticos separados depois do nascimentos e cada um tenha uma predisposição genética para passar dos 1,80 m de altura, os dois tenham um forte metabolismo que os mantêm magros, e um sistema nervoso que permite uma coordenação olho-mão aguçada. Digamos que ambos fossem adotados por famílias de classe média em ambientes suburbanos e crescessem no que seria considerado uma cultura juvenil tradicional americana, incluindo esportes e atividades. Uma vez que os dois irmãos possuem alturas avantajadas e coordenação superior geneticamente, eles levarão vantagem nos esportes. E como o basquete e o futebol americano são os dois principais esportes nos Estados Unidos, eles provavelmente acabarão por se tornarem jogadores de um dos dois. Considerando a esbelta compleição e elevada altura deles, devem ter uma propensão maior para o basquete. Se eles obtiverem apoio moral dos amigos e família, talvez jogarão profissionalmente quando crescerem.
 
Seria essa atividade de jogar basquetebol genética? Não no sentido que alguns geneticistas comportamentais sugeririam. O fato é que a propensão de jogar basquete provem de superioridades fisiológicas genéticas, combinadas às tradições culturais estabelecidas no ambiente. Não há evidência alguma sugerindo que os genes de algum modo fazem o jogador de basquete. Isso se parece como estudos genéticos que alegam estar procurando o gene que torna alguém fumante ou republicano… isso é um grande absurdo. As únicas bases genéticas relevantes aqui são fisiológicas, não comportamentais.
 
Neuroquímicos são outros exemplos de influências fisiológicas no comportamento. A serotonina, por exemplo, se mostrou relacionadas a supostos comportamentos “anti-sociais”. Baixos níveis de serotonina podem aparentemente levar à impulsividade e agressão. Seja como for, os neuroquímicos não orientam o comportamento de uma pessoa de um modo específico. Assim como outros atributos fisiológicos, eles causam certas predisposições.
 
Embora de fato haja uma origem genética para essas substâncias químicas, que podem estar relacionados à hereditariedade familiar e supostos “distúrbios de personalidades“, resultantes de desequilíbrios químicos, a suposição do comportamento neuroquímico não especifica como essas propensões químicas manifestar-se-ão. Em outras palavras, alguém poderia dizer que uma pessoa com certo desequilíbrio tem predisposição a “zangar-se” mais facilmente que a população em geral. Embora isso seja informativo, isso nada diz acerca de como o comportamento manifestar-se-á. É o ambiente que determina o comportamento real ou ausência do mesmo.
 
Não há evidência científica que realmente apoie a noção de qualquer de nossos comportamentos é exatamente o resultado de nossos genes. A busca por um “gene” ou afim causador de um comportamento específico é basicamente uma forma de superstição. É como se uma pessoa fosse “possuída por demônios” que controlassem seu comportamento.
 
O fato é que embora neuroquímicos e traços fisiológicos provocam propensões para as reações e tendência social de uma pessoa, é o ambiente que de fato cria nossos valores e comportamentos. Nossos valores, métodos e ações são desenvolvidos e frutos de nossas experiências.
 
O estudo “Merva-Fowles“, realizado na Universidade de Utah, nos anos de 1990, descobriu fortes conexões entre o desemprego e o crime. Suas descobertas mostram que um aumento de 1% no desemprego resulta em:
 
· um aumento de 6,7% nos homicídios;
· um aumento de 3,4% nos crimes violentos;
· um aumento de 2,4% nos crimes possessórios.
 
Não apenas isso, ele descobriu também que aqueles que perderam o emprego recentemente, ficaram especialmente vulneráveis a doenças. Suas descobertas mostram que um aumento de 1% no desemprego também resulta em:
 
· um aumento de 5,6% nas mortes por ataque cardíaco;
· um aumento de 3,1% nas mortes por derrame.
 
Com base nos níveis de desemprego de 1990-1992, isso resultou em mais 35.307 mortes por ataque cardíaco e mais 2.771 mortes por derrame. O estudo descobriu também que esses desempregados tiveram uma predisposição muito maior para o alcoolismo, fumar, depressão e consumo de dietas menos saudáveis.
 
Esse estudo revela como o sofrimento e a agressão pode resultar da privação ambiental, e o quão poderoso é o ambiente na formação de nossos comportamentos e valores.
 
A conclusão é que nossos comportamentos são baseados no que aprendemos, juntamente com as pressões biossociais com as quais temos de lidar para sobreviver. Nossa constituição genética não nos diz nada sobre como exatamente devemos funcionar. É o que aprendemos e aquilo  com o que nos acostumamos que cria nosso comportamento.
 
Cada palavra nesse texto foi aprendida por este autor de um jeito ou de outro. Todo conceito é um acúmulo coletivo de experiências. Não existe nada realmente que pensamos e que não tenha sido nos apresentado de alguma forma através do ambiente.
 
Uma pessoa nascida numa cultura em particular irá absorver os valores, tradições e, portanto, comportamentos dessa cultura. Uma criança chinesa separada dos pais no nascimento e que cresceu numa família britânica na Inglaterra desenvolverá o idioma, o dialeto, os maneirismos, as tradições e o sotaque da cultura britânica.
 
Fontes e referências:
 
- Joseph, Jay, A critical review of twin and adoption studies of criminality and antisocial behaviors, The Journal of Mind and Behavior;
- Elliot, FA, A neurological perspective of violent behavior. In DH Fishbein, The science, treatment, and prevention of antisocial behaviors, pp. 19-21, 2000, Civic Research Institute;
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