Por que o papa Francisco fascina tanto os jovens?

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Juan Arias, publicada no jornal El País, 24-07-2013. A tradução é de Cristina Cavalcanti.

Ninguém duvida. Francisco agrada aos jovens, católicos ou não. Mais do que isso, deixa-os eletrizados, como ficou comprovado nas ruas do Rio, onde se pôde ver, com um nó na garganta, o pequeno Fiat do Papa ser praticamente invadido por uma maré de jovens peregrinos que vieram para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ).

A pergunta é por que esse fascínio entre jovens que, como revelam as pesquisas, ao mesmo tempo exigem da Igreja muito mais do que o Papa oferece.

Hoje, os jovens estão desencantados com quase tudo, preocupados com o futuro. São vitimas, por exemplo, da violência assassina. Dos 50 mil homicídios por armas de fogo anuais cometidos no Brasil, 80% são de jovens.

Dizem que eles não acreditam nos mais velhos. E menos ainda nos políticos. Dizem que são fundamentalmente egoístas e hedonistas. E, principalmente, consumistas. Que carecem de valores.

E chega Francisco, já idoso, quase um avô para eles, um papa exigente que os põe em guarda contra o “fascínio do provisório”, isto é, da ânsia de consumir e possuir; que lhes diz que eles são a porta por onde entra o futuro do mundo, mas lhes propõe um futuro em que “menos é mais”. Convoca-os a se despojarem do provisório e do fugaz em troca do permanente, da essência.

Certas pistas dos jovens presentes no Rio ajudam a entender este paradoxo. Alguns dizem que gostam do papa Francisco porque “não interpreta um papel. Ele é o que diz” Como sabem? Eles o intuem.

Gostam porque ele é diferente das personagens do poder que conhecem e abominam. Dizem que Francisco“simplifica” as coisas, que para ele menos é mais.

Talvez os jovens se encantem com a simplicidade dos seus gestos e palavras por sentirem com força a comichão do consumismo e do efêmero.

Cansados da hipocrisia e do desperdício dos homens no poder, sentem-se atraídos e eletrizados ao ver Francisco percorrer as ruas do Rio em um carro utilitário sem blindagem e com as janelas abertas. Percebem que ele não tem medo de morrer, algo que os deixa excitados.

Gostam que Francisco seja um papa com “corpo”. Não é espírito nem anjo. Não tem medo de beijar e abraçar. Não rejeita o contato dos corpos.

Eles intuem que Francisco não é ator nem um hipócrita, que não exige aquilo que não é capaz de fazer e é consequente com as suas palavras.

O veem despojado, carinhoso, amável e ao mesmo tempo severo, a começar consigo mesmo.

Quando soube que queriam contratar o chef de cozinha do Copacabana Palace, um hotel luxuoso e mítico do Rio, ele mandou dizer que preferia que as freiras preparassem arroz, feijão e pão de queijo, bem à brasileira.

Eles gostam do olhar dele, escreveu um jovem ontem, “que te fita e parece que te vê por dentro”.

“Ele parece sincero, não parece um hipócrita”, disse um jovem espírita que veio de fora do Rio para conhecer Francisco: “Embora eu não seja católico, gosto deste senhor tão simples apesar de ser papa”, disse a um repórter do jornal O Globo.

Por fim, os jovens sentem que Francisco crê neles, no que representam no mundo. Ele crê, como disse, nessa “capacidade de surpreender” que os jovens costumam ter.

Numa época de descrença generalizada, em que grupos de adultos fazem rituais de “desbatismo” nas ruas e exibem o seu ateísmo, a boa surpresa é que centenas de milhares de jovens de diversos países e línguas diferentes se apaixonaram por um papa que lhes pede que se dispam do peso do supérfluo e sintam a vibração do que permanece e vale a pena saborear.

Acima de tudo, vale a pena “fazer algo pelos outros”, disse o Papa. Parece pouco, mas é esse pouco, proposto como uma mensagem condensada, que está conquistando a simpatia e o carinho desta juventude sobre a qual ontem ele disse que “devemos dar espaço” para que possa “crescer e amar em liberdade”.

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