Laicismo: Quem não tem religião estaria liberado para matar? Claro que não. Os direitos humanos valem para todos!

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Pedro Menezes.

O laicismo está fazendo a cabeça de muitas pessoas. Elas acabam convencidas de que alguém ligado a um credo, formalmente ou não, defendendo certa agenda, automaticamente torna essa a agenda de religiosa, não importa quantas pessoas não religiosas também a defendam. O tema acaba recebendo todos os estereótipos e estigmas.

Isso é resultado de uma visão maniqueísta do debate político. Ou está comigo, ou está contra mim. Quanto mais extremada uma posição política, mais maniqueísta é em relação aos oponentes. E talvez é ingenuidade pensar que esse maniqueísmo seja involuntário, quando é bem provável que faça parte de uma estratégia antiga como o mundo, a de demonizar o inimigo para angariar seguidores.

Claro que um maniqueísmo só pode ser fundamentalista, a postura de quem está interessado em impor visões e não em debater. A disposição ao debate cria uma ótima imagem de abertura, de compreensão e vontade de resolver o problema, porém debater implica em correr o risco de ceder posições ou, mais importante, a expor-se à verdade. Quanto menos se discute, menos chance temos de encontrar a verdade. Daí que muitos precisam dizer que querem o debate, mas de fato rejeitá-lo acima de tudo.

E a melhor forma de rejeitar o debate parecendo querê-lo é convencer o público de que quem rejeita o debate é o oponente. A falácia do espantalhos é uma das melhores formas de fugir do debate. É uma falácia, o que quer dizer que tem aparência de verdade mas é falso, ou por uma premissa falsa ou pela relação entre elas. Uma falácia do espantalho cria uma posição falsa do oponente para derrubá-la, criando a aparência de que se derrubou o oponente, quando na verdade ele nunca defendeu tal ideia. Com essa falácia, não apenas não há debate, como se dá a impressão de que o oponente é quem fugiu dele.

Os dois temas que mais envolvem polêmica em relação à posição de religiosos — legalização do aborto e união homossexual — já começam com a falácia do espantalho. Os argumentos que seus apoiadores refutam são religiosos: de que na concepção há alma humana e de que Deus proíbe atos homossexuais. Mas os argumentos verdadeiros não são esses, pelo menos no debate formal, aquele que ocupa espaços de valor na agenda, como os tribunais e as plenárias. Cristãos, e não apenas eles, opõem-se ao aborto pela razão moral, com evidência biológica desde a formação do DNA, de que uma vida humana começa na concepção, inclusive com direitos resguardados, e se nem aquele DNA pertence à mãe, não faz sentido em dizer “direito sobre o próprio corpo”.

Essas pessoas também opõem-se ao casamento homossexual não para prejudicar os gays — argumento que beira ao mimimi infantil para demonizar o oponente – mas para manter a família como causa e sustento da sociedade pela obviedade, mesmo que imperceptível para alguns, de que todos nós viemos de conjunções dos gametas masculino e feminino, e não das cegonhas.

Quem não tem religião estaria liberado para matar? Claro que não. Os direitos humanos valem para todos.

Dom Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, em mensagem no Twitter@DomOdiloScherer no dia 15/03/12 (com correções).

A primeira coisa que os apoiadores dessas causas dizem é que é preciso criar o debate e que os opositores não querem debater sobre o assunto, mas a primeira coisa que fazem é tentar aprovar essas coisas na marra, seja por congressos falsamente representativos da sociedade que aprovam planos executivos (como o PNDH-3), seja por decisões judiciais no STF.

Fazem a apelação, mais que inconstitucional, contra os princípios republicanos de legislar por meio de atos executivos ou jurídicos, pois sabem que, se usarem as regras democráticas do debate aberto e da vontade da maioria, perdem na primeira leva. Daí entendemos porque têm uma vontade gutural de enfiar na cabeça das pessoas a ideia de que a sociedade brasileira é conservadora, sem explicar bem por que seria assim.

As alas esquerdistas precisam colocar esses falsos argumentos religiosos na conta dos oponentes para poder jogar a carta do estado laico. Assim, não só eliminam do debate tais temas, que nada tem a ver com laicidade do estado, como eliminam os oponentes junto com eles. Melhor do que tirar um tema da jogada é tirar o oponente da jogada. Facilita todo o trabalho de criar um argumento falso, e ainda vem com um bônus: o apelo muito fácil, que convence qualquer um, de que há pessoas inescrupulosas querendo usar a religião como política, coisa antiga, medieval e da Igreja opressora, que ninguém quer repetir. É tão chocante quanto defender que pobre e negro deve passar fome e morrer. Essa estratégia é muito curiosa no caso da descriminalização do aborto, quando vemos suas consequências: pois nos países onde aborto é legalizado, quem mais é morto por abortamento é justamente os bebês pobres, os negros e as meninas.

Vejam como as coisas dão voltas. Podemos perder posições com o debate, mas chegar à verdade — no caso, a da dignidade humana — não devia ser uma luta de posições. E as pistas da verdade estão evidentes por quem cruzou caminhos antes de nós. Querem legalizar o aborto com o apelo emocional barato de proteger a mulher, as minorias étnicas e os pobres. O apelo perde sentido quando vemos que nos EUA a maioria dos abortados são negros e pobres, na Índia e na China são as meninas, e na Europa são as minorias étnicas e os deficientes. A tentativa de humilhar o adversário por meio da enganação e da mentira só leva ao desastre que tentam evitar.

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